Todas as semanas vejo as corridas internacionais e depois venho para este universo virtual partilhar, lendo e escrevendo. Uma parte considerável desse público que acessa a internet avalia mal os pilotos brasileiros em atuação no exterior. Os maiores alvos das críticas são os pilotos da F1. Um dia foi Rubens Barrichello, hoje é Felipe Massa. Parece que poucos percebem as maiores evidências da questão: Os pilotos de F1 são todos fora de série, a diferença entre o primeiro e o segundo piloto de um time não passa de meio segundo ( já calculou esse tempo?), o melhor piloto da F1 hoje leva patrocínio para a equipe e o alemão que está pra entrar para a história é, até agora, o escolhido da equipe para vencer. Essas duas circunstâncias determinam as quatro últimas temporadas da F1.
As mesmas circunstâncias que transformaram nossos representantes em campeões mundiais jamais se reproduziram. Nem dentro nem fora do Brasil. O que era o Brasil na época em que Fittipaldi apareceu? Só pra citar um detalhes daqueles anos 60, a indústria automobilística amparava o automobilismo e promovia nas pistas o encontro de gerações em brigas que ensinavam dentro e fora das pistas. Era um berço natural para UM poder aparecer.
Na época de Piquet o cenário nacional ainda tinha nas pistas muita competência e tanto a maturidade de Piquet, que não era nenhum garoto, quanto seu gosto pela mecânica e toda sorte de dificuldades que teve na carreira, ajudaram a formar o caráter de um campeão que foi ganhou nas pistas tanto pela inteligência quanto pelo caráter.
Depois veio Senna que teve apoio da família pra aprender tudo no Kart e, também já nos últimos anos de adolescência, afrontou o fim do apoio financeiro do pai pra trabalhar e muito pra conseguir o apoio financeiro necessário naquele já então caro automobilismo. Os três cresceram sonhando acelerar e se formaram homens lutando pelo dinheiro e trabalhando muito, muito mesmo pra materializar suas carreiras.
Depois disso vimos nascer uma geração de pilotos apoiados desde cedo por famílias que buscavam conseguir o que todos podiam ver nos jornais, nas revistas e na TV: Fama e Fortuna(!) de ser piloto, de F1, vencedor e brasileiro. Todos viram a champanhe no pódio, ninguém quis saber dos tombos no caminho.

Para acalentar e lucrar com esse sonho de tanta gente, foi montada uma complexa rede formação de novos “talentos”. Nós da mídia pra acompanhar as promessas, os bancos e patrocinadores pra bancar a festa, equipes e mais equipes com engenheiros e mecânicos, managers, todos, de carreiras improváveis. Imaginamos ser possível recriar todo o ambiente onde nasceram nossos campeões, colocando no cenário a única coisa que eles não tiveram: facilidades e artificialidades sobre um mundo que os pilotos, crianças, nunca souberam nem puderam perceber que existia. Como fabricar um campeão com a “fábrica” desmontada? Pois não existe mais o apoio das fábricas, a dificuldade e variedade das disputas em carros, karts, fórmulas, protótipos…todos de relativa baixa potência e muita, muita briga nas pistas e trabalho nos bastidores. Se Emerson e Piquet foram mecânicos, Senna andava de redação em redação com seu material pós corridas para dar entrevistas e educar os jornalistas sobre sua carreira e profissão. Nenhum deles começou a carreira com assessor…

Ok, os tempos são outros, todos antenados, conectados…mas hoje como ontem e sempre não se faz “músculos” deitado em berço esplêndido. Nossos pilotos hoje nascem e crescem numa sociedade onde é proibido ao menor trabalhar, onde esse menor é inimputável perante a lei, e onde na escola ele não pode ser reprovado pra não ficar traumatizado.
As fábricas ganham dinheiro com os bancos vendendo o sonho da mobilidade com conforto e velocidade. Dane-se que as ruas estão entupidas! Nada é feito pelo esporte.
O esporte vive de disputas artificiais com monopólios de equipamentos, categorias e com o público cada vez mais distante do show.

Não teremos mais pilotos campeões. E os heróis que aceleram hoje pelo mundo com a bandeira brasileira bordada em algum lugar do macacão podem até se iludir com o mesmo sonho de vencer, mas sabem que trabalham para si próprios pois o país e seus “torcedores” nunca fizeram nada por eles.